VIAJANDO EM 2017 EXATOS 4.028 KM COM UM SIMCA JANGADA TUFÃO COM MECÂNICA ORIGINAL, ENTRE BELO HORIZONTE/MG E CANELA/RS
Há mais ou menos uns 15 anos, ali por volta de 2000 e alguma coisa, eu estive em Porto Alegre. Visitei o Carlos Galant e juntos fomos a Canela ver o Tato. Fiz essa viagem entre Minas Gerais e o Rio Grande do Sul de carro, abarrotado de peças de Simca indo e vindo.
Naquela época nasceu o sonho: vou fazer essa viagem com a minha Simca Présidence. Agora, em setembro de 2017, o sonho bateu na trave e fui com a Jangada, que ficou pronta primeiro, embora tenha sido comprada depois.
Esta foto a seguir quando cheguei a Canela para o III Encontro Nacional da Simca do Brasil, que lá organizamos. Apesar de entre os 30 carros participantes ter sido o que foi de mais longe e o que foi de mais longe rodando, a Jangada foi a primeira a chegar.
REVISÃO PARA A VIAGEMEsta fase foi a mais pesada porque eu tirei férias do meu serviço para fazer uma revisão tranquila para a viagem, mas eu tive que trabalhar nos 10 primeiros dias de férias e isso me atrasou demais. Surgiram alguns imprevistos, como descobrir no momento do alinhamento que os dois rolamentos do eixo traseiro estavam muito ruins. Não foi fácil achar os rolamentos e a única marca encontrada era chinesa. Outros imprevistos também aconteceram e cheguei a um ponto de
stress que resolvi sair da casa às 18h de um sábado, pois tinha resolvido sair naquele dia custasse o que custasse.
PLANEJAMENTO E MEDOSDesde o início a minha ideia foi ir rodando sem compromisso, sem pressa, passeando e parando pelo caminho ou em lugares pré estabelecidos, como no meu irmão em São Paulo ou em uma amiga em Curitiba, ou onde desse vontade ou, por fim, onde o cansaço determinasse.
Muitos pensaram que eu era doido de enfrentar uma viagem assim sozinho, mas doido eu seria se não corresse atrás desse sonho, que valeu a pena em todos os sentidos.
Muita gente duvida do Simca. Eu sempre disse que, fazendo e mantendo bem feito, é muito prazer e confiança. Ao longo de 34 anos lidando com carros da marca foi isso que aprendi, literalmente colocando a mão na graxa e aprendendo com os meus erros, com os vários erros dos muitos que me prestaram serviços e ainda com os ensinamentos de muitas pessoas que cruzaram o meu caminho e me ensinaram bastante.
Eu estava 100% confiante no motor, que montamos aqui em casa. Meus medos eram de outros componentes como bomba dágua, rolamentos, cardã, gerador, enfim, outras coisas das quais o carro precisa para rodar.
PRIMEIROS 400 KM – BELO HORIZONTE/POUSO ALEGREComo escrevi antes, saí de casa por volta das 18h. É pegar a estrada e o
stress vai ficando para trás. Rodei até Pouso Alegre, uma cidade no sul de Minas, onde cheguei entre meia noite e 1 hora da manhã. Viajar de noite com um Simca Tufão é alguma coisa meio indescritível de boa, é como diz o Belchior na música: só tens agora os carinhos do motor V-8, que funcionou como uma sinfonia das melhores.
Descobri que tinha esquecido em BH o estepe e o triângulo, que tirei na hora de colocar a placa luminosa da Simca que mandei fazer em BH e seria sorteada no evento em Canela.
Nesta foto que tirei no final do dia, com o carro em movimento, o relógio estava travado em 4h, mas era alguma coisa perto de 6h:
SEGUNDO TRECHO – POUSO ALEGRE/BRAGANÇA PAULISTASaí no meio da manhã e parei em Bragança Paulista. Até aí o carro tinha sido perfeito. Comi um hambúrguer e na hora de sair o carro parou depois de 20 metros. Levei muito tempo para acreditar que o problema estava nas duas válvulas da bomba de gasolina, pois na revisão que fiz em BH eu havia colocado duas novas. Voltei com as válvulas que havia retirado em BH e segui viagem, com o carro se comportando muito bem
TERCEIRO TRECHO – BRAGANÇA PAULISTA/CURITIBATudo bem com as novas válvulas. Um calor terrível, então tirei um pouco o pé porque tem que saber lidar com a limitação do motor com válvulas no bloco e ainda pensar no amaciamento, pois naquele momento ele ainda estava ali pelos 5 mil e pouco quilômetros rodados com cuidado.
Em compensação, na serra que chega em Curitiba, já bem de noite, uma cerração tão forte que foi a única vez em toda a viagem que tive que usar o limpador de para brisa original, que funcionou perfeitamente.
Mas eu estava com sono e pensei que iria passar apuros naquela serra, sem ver muita coisa à minha frente. Eis que surge, como um foguete, um ônibus da Itapemirim com vidros pretos. Vi que era a minha chance de acordar e aí pisei fundo para conseguir alcançar o ônibus, o que só consegui em uma subida bem forte. Aí fui atrás dele e tive que me virar para acompanhar porque o motorista era muito bom, conhecia a estrada e dirigiu aquele ônibus como eu dirijo um carro. Foi um trecho bem emocionante da viagem e a Simca se mostrou espetacular para vencer a subida e as curvas fechadas seguindo um motorista de ônibus que pisava fundo.
QUARTO TRECHO. CURITIBA/FLORIANÓPOLIS.
Passei o dia em Curitiba, boa parte na oficina do grande amigo João Chevônica, ótima pessoa e excelente mecânico. Elogiou o motor e a carburação, o que me deixou muito feliz, depois trocando o distribuidor com platinados por um distribuidor eletrônico, conforme já havíamos planejado.
Mostrei para o Chevônica as válvulas novas da bomba de gasolina que eu havia colocado na minha revisão em BH e ele me mostrou que elas estavam com as placas de celeron empenadas. Eram de péssima qualidade, do mercado paralelo. Daí pegou duas originais da Super Test, fornecedora da Simca, e me deu de presente. No final da tarde me levou até a saída de Curitiba e segui até Florianópolis, dormindo em um motel de beira de estrada. Nesse trecho vi o quanto acertei com a ignição eletrônica. Primeiro acabando com a incerteza que os platinados deixam. Costumo dizer que eles não são compatíveis com os cabelos brancos e com vista cansada. Segundo porque o motor trabalha sempre redondo, mais robusto, mais firme ainda nas subidas. Bom demais!
Obrigado, platinados, pelos bons serviços prestados todos esses anos.
QUINTO TRECHO. FLORIPA/CANELA.Saí no meio da manhã e a viagem transcorreu tranquilamente. Fui pela Rota do Sol. Vejam o tamanho da encrenca que a Simca enfrentou sem ferver: impressionante a altura. Foi a primeira vez na viagem que precisei colocar 2ª marcha para vencer uma subida. Lá no alto da primeira foto foi onde ela chegou, ô serrinha danada essa:
EM CANELADois uruguaios venceram 900 km para prestigiarem o nosso evento. Possuem Simcas com motores Nissan e ... o outro esqueci agora. Saímos juntos, comemos pizza. Muito humildemente perguntaram se poderiam entrar no carro e eu ligar o motor original. Percebi que queriam andar na Simca com motor original. Pedi para esperarem porque eu tinha um tanto de gente para conversar. No final do dia, já escuro, entramos no carro, virei a chave e ... nada. A bateria acabou. Foi um item que não revisei. Com uns 3 anos de vida, já tinha cumprido a sua parte.
Por sorte o carro pegou no tranco e aí pensei: vou pisar fundo para ver se a bateria carrega e também para impressionar esses caras. E pisei fundo no caminho até Gramado para os caras verem como anda um Simca com mecânica original bem feita. Eles pareciam estar andando de Ferrari, não vou esquecer da cara de espanto deles e nem da alegria deles.
O Elton, gerente do Museu de Canela a quem apelidei de Posto Ipiranga porque faz tudo e resolve tudo, arrumou uma loja de bateria em pleno domingo e comprei uma nova.
Essas foram as melhores fotos do evento:
Mas essa também ficou boa, a Jangada contornando a Catedral de Pedra:
CANELA/SÃO FRANCISCO DE PAULAEu e o Alexandre Goerl fomos a Canela visitar o Tato. Chegamos de surpresa e infelizmente não conseguimos falar com ele.
Na volta, uma pomba atropelou a Jangada e foi isso que sobrou dela:
SEXTO TRECHO. CANELA/BARRA VELHAAqui o início do percurso de volta. Jangada é que nem coração de mãe, cabe tudo:
Pelo que vi, no domingo que saí da Canela foi um dos dias mais quentes, se não o mais quente, de um inverno no Rio do Grande do Sul nos últimos 30 anos. E mais uma vez o motor Tufão se deu super bem, não fez feio, não superaqueceu.
Mas, lembram daquelas duas benditas válvulas da bomba de gasolina? O carro parou novamente logo que deixei um posto de gasolina, eu tinha parado para quase tomar um banho de tanto calor.
Falar em calor, para tudo o que eu olhava eu só via calor. Parecia que a borracha dos pneus iria derreter de tanto calor. Usei um galãozinho de reserva e a bomba puxou a gasolina, voltei para o posto e os frentistas muito legais me deixaram até usar o elevador para fazer uma revisão. Tudo ok.
Bendito João Chevônica que me deu aquelas duas válvulas novas, porque senão eu ficaria ali naquele pedaço de deserto gaúcho. Estava perdido. Peguei um outro caminho e acho que rodei muito mais. Era tanto calor que o GPS parou de funcionar direito, ficava me mandado virar à direita ou à esquerda em caminhos inexistentes, onde só tinha mato.
Foi um trecho bem difícil da viagem.
Trocadas as válvulas, ficou tudo ótimo e segui normalmente até Barra Velha, onde fiquei em um hotel. Acordei às 5h30 e o café da manhã iria demorar, o porteiro viu que eu fiquei estressado e me falou para dar uma volta ... na praia. Foi mágico, fiquei ali sozinho vendo aquele mar imenso e maravilhoso.
Como Jangada combina com o mar, resolvi tirar essa foto em movimento:
SÉTIMO TRECHO. BARRA VELHA/CURITIBATudo bem, o carro se comportou maravilhosamente no pesado trânsito e foi quando desconhecidos fizeram esse vídeo que me chegou já umas duas ou três horas depois:
https://www.youtube.com/watch?v=aXNv0-hhLisAchei bem interessante porque o vídeo é a prova para alguns que não acreditam muito quando eu disse o tanto que um Simca bem feito anda e é confiável, pois os caras filmaram quando eu estava ultrapassando tranquilamente a exatos 100 km/h.
Acho que tem gente duvidando até hoje que fiz essa viagem rodando...
OITAVO TRECHO. CURITIBA/SÃO PAULO.Muito calor também, mas o carro uma vez mais se portou bem inclusive na subida da última e pesada serra antes de São Paulo.
NONO TRECHO. SÃO PAULO/BELO HORIZONTEFui em Santo André para entregar umas peças para o Ronaldo Pal na oficina do Guedes:
Lá estava o Paoluccio, que me convidou para almoçar no clube Juventus, do qual é sócio. Foi muito legal. Mais calor, muuuuito calor. Os termômetros indicando 40 graus e um trânsito pesadíssimo, primeira em boa parte do longo percurso. Na subida da Serra na saída da São Paulo, mais calor e trânsito quase parado por causa de um acidente. Primeira e primeira na subida, aí as já manjadas válvulas da bomba de gasolina abriram o bico de novo. Mais uma vez eu fui salvo por um amigo, pois dessa vez usei as duas válvulas de um outro carro que o Marco me deu em Curitiba. Acontece que uma delas estava com defeito e o carro parou menos de 5 minutos depois, aí tive que escolher as melhores válvulas que sobraram.
Nesse momento fiquei apreensivo: não tinha mais válvulas de reserva. O que fiz foi parar em um Graal que estava próximo e fiz ali muito hora, esperando o tempo passar para o calor insuportável passar. Quando peguei a estrada, já no final da tarde, pisei fundo para aliviar a irritação de ficar parado e para chegar em casa, o que aconteceu à 1h09.
Realizei um sonho antigo. Passei raiva com as válvulas da bomba de gasolina, único problema que fez o carro parar durante a viagem, mas prevaleceram os ótimos momentos que essa Jangada me proporcionou. Não é qualquer senhora de 51 anos que proporciona uma viagem como essas. O saldo foi muito positivo e eu comprovei o que já tinha certeza: um Simca original bem feito dá muito prazer!
Não posso deixar de agradecer às seguintes pessoas que me ajudaram com esse carro, em situações que não envolveram pagamentos por serviços prestados. Isso mostra como a ajuda gratuita foi fundamental para a restauração dele. Foram demonstrações de verdadeira amizade que fazem tudo valer a pena.
1) Tato, que me mandou uma circular da fábrica que indicava que a cor secundária era o verde água, e não o gelo, como eu havia pintado. Pintei o carro novamente por causa disso, dessa vez na cor correta.
2) Flávia, filha de um dono de concessionária Simca, que "roubou" do pai as tarjetas de cores que ele não liberava e me deu. Somente assim eu pude descobrir o tom correto do verde água, que até então eu não conhecia.
3) Rubens Hay, que me deu as molduras laterais superiores internas do porta-malas, que vão abaixo dos vidros fixos. Elas se perderam na primeira oficina para a qual eu havia mandado o carro ser desmontado (aprendi com o erro, quem tinha que desmontar era eu mesmo). Além disso, levei o painel de instrumentos completo para Curitiba e o Rubens levou para o tapeceiro dele fazer a restauração para mim.
4) Loty, que veio aqui em casa inúmeras, inúmeras e inúmeras vezes me ajudando em várias coisas na restauração: ele mesmo desmontou, revisou e montou a caixa de marchas e o setor de direção sozinho; ajudou na montagem do motor; parte elétrica; colocação do escapamento e do tanque de gasolina; várias e várias outras coisas, tantas que agora nem lembro. Se não fosse por ele, esse carro não estaria pronto e não teria a qualidade que tem. Foi graças ao Loty que resolvi me aventurar a aprender montar motores de Simca e juntos montamos os das minhas ex-Rallye 63 e Chambord 63, além da Jangada 66 e da Présidence 64.
No ajuste do motor da Jangada. Eu, no centro. À esquerda, Loty. À minha direita, Enrique Plá.
5) Enrique Plá, que viajou muitos e muitos quilômetros para colocar a mão na massa e também me ensinou várias e várias coisas. Suas duas vindas foram da maior importância. Uma vez, veio de São Paulo. Outra vez, veio de Catalão/GO. Sem dúvida com ele o meu nível de conhecimento sobre montar motores de Simca aumentou consideravelmente, pois aprender mais é sempre bom. Ajustou ainda o motor da Jangada 67 e sempre se mostrou disponível para tirar as minhas dúvidas.
Na foto, Enrique ajustando o motor da Jangada. Em um momento se distraiu e girou o virabrequim com uma mão, amassando o dedo da outra entre a bolacha e o bloco:
6) Guedes. Antes do 1º Encontro Simca, em Poços de Caldas, mandei a Jangada para fazer a tapeçaria em Santo André. Combinei também o Guedes, ótima pessoa e excelente mecânico, uma revisão nela. Independentemente do preço que cobrou, pois é um profissional e vive disso, a dedicação e algumas coisas que fez sem me cobrar foram fundamentais para o carro ficar pronto a tempo para o evento.
7) Zelão. Assim como o Guedes, foi absolutamente fundamental nessa fase da Simca em Santo André me ajudando com problemas que tive com o tapeceiro, na logística de ficar levando o carro entre a oficina do Guedes, oficina do tapeceiro e a oficina que havia sido dele, hoje com o irmão, onde foram feitos alguns serviços finais de pintura e lanternagem, tendo o Zelão inclusive montado algumas coisas para mim. Ele e o Guedes foram nota mil nessa fase, na qual foram feitas coisas demais em tempo de menos.
8) Frederico Wessel, que providenciou para mim as molduras que me faltavam da caixa de rodas, as quais haviam se perdido naquela mesma primeira oficina que mencionei. Eu dificilmente conseguiria essas peças originais. Eu só tinha 1 das 4 que vão ali.
9) Alexandre Goerl: idem com as molduras que servem de estribo na saia que vai abaixo da porta inferior traseira. Eu só tinha 1 das 3 que ficam ali.