Copyright © 2003 - Carlos de Paula, escreveu:
EQUIPE SIMCA – VIVE LA FRANCE!A Simca era uma montadora francesa, fundada em 1935 inicialmente produzindo carros da Fiat na França, como o Topolino, sob licença. Eventualmente projetou seus próprios carros, chegando inclusive a patrocinar a equipe Gordini no início do campeonato mundial de Fórmula 1, que recebeu o nome de Simca Gordini. Nos anos 50, a montadora comprou a Ford France, daí o fato de o nosso Simca Chambord parecer-se mais com um carro americano, do que europeu. Com motor V8 e tudo, a Simca resolveu ser uma das fábricas de automóvel do Brasil (na realidade um dos poucos trunfos de JK, visto que a maioria das montadoras já tinha uma presença no país), e aqui montou pouco mais de 50.000 carros.
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/simca_azmus_panato_barro.jpg)
Simcas eram muito populares em corridas no Rio Grande do Sul
Inicialmente, os Simca eram quase completamente importados, mas pouco a pouco foram nacionalizados. Certamente incentivados pelas grandes vitórias do FNM JK nas corridas brasileiras de longa distância, a partir de 60, a Simca eventualmente resolveu estabelecer seu próprio departamento de competições. O JK tinha um motor mais ou menos do mesmo tamanho do Simca, e usando uma pouco a imaginação, os carros eram até parecidos. Portanto vislumbrava-se grandes batalhas entre os dois sedãs grandes. Entretanto, quando a equipe oficial da Simca entrou nas pistas, em 1961, o JK já estava quase de fora. Apesar do FNM ter se adaptado bem às pistas, a FNM esteve sempre na beira da falência, e não tinha condições de manter equipe de fábrica. Restaram alguns pilotos que perseveraram com os JK, entre outros Mario Olivetti. Ou seja, o caminho estava aberto para a Simca dominar. Só que...
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/60simca_jandap.jpg)
Simca em Interlagos, 1966
...apesar do motor V8, o Simca de rua tinha um motor fraco, situação que só foi remediada com o lançamento do motor Emi-Sul, anos mais tarde. Foi necessário aumentar demais a potência de 76 HP, mas com feras como Chico Landi e Ciro Cayres, eventualmente os Simcas de fábrica atingiriam 140 cavalos, já não tão fraco para um carro daquele porte e peso.
Mas havia outra pedra no caminho do domínio da Simca: a equipe Willys havia lançado as Berlinettas Interlagos, que apesar de ter menos da metade da cilindrada dos Simca, dominavam completamente o cenário automobilístico brasileiro em 1962 e 63. Os carrinhos de 1 litro eram leves, rápidos, e a equipe contava com excelentes pilotos, entre outros Bird Clemente, Christian Heins e Luis Pereira Bueno.
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/500i63-barberis.jpg)
Jayme Silva com o Landi Bianco Simca, nos 500 Km de 1963
Não que a Simca estivesse atrás neste departamento. Além de Landi e Caires, a Simca contava com o excelente Jaime Silva e Jose Fernando Toco Martins. No começo, a Simca conseguiu um significativo 1-2 nas 6 do Rio de Janeiro de 1962, com Jaime Silva em 1o. e Ciro Cayres em 2o. Mas corrida após corrida, acumulavam-se as derrotas da Simca. Entre outras providências, a equipe instalou um dos seus motores num dos Landi-Bianco de Formula Jr. Com este carro, Jaime Silva fez algumas corridas, chegando em 4o. nos 500 Km de Interlagos de 1963. A Simca também tentou montar um protótipo “made in Brazil” para combater as incríveis Berlinettas. Usando um chassis de Maserati F-1, que houvera sido usado por Ciro Cayres durante muitos anos (leia este artigo) como Mecânica Continental, a Simca criou um protótipo que recebeu o dúbio nome de Tempestade. O Tempestade até tinha uma aparência de brabo, mas era longe de estável, chegando a ser apelidado de Perereca, de tanto que pulava na pista! Teoricamente, deveria até bater as Berlinettas, mas sua única grande vitória foi nos 500 km da Guanabara, em 1965.
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/simca_Tempestade-5.jpg)
Simca Tempestade...em pista molhada
Em 1963, o simpático engenheiro Pasteur, chefe da Simca do Brasil, decidira apelar. As Berlinettas passaram a usar motores 1,3 litros, tornando-se mais imbatíveis ainda, e Pasteur criou seu próprio soro anti-rábico! Resolveu importar três Simca Abarth de 2 litros, carros de última geração que ganhavam muitas corridas na Europa, em corridas para GTs de pequena cilindrada. E não foi diferente no Brasil: logo na estréia, nas 3 Horas de Interlagos de 1964, Jayme Silva ganhou com facilidade, apesar de largar em último.
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/abarth1965.jpg)
Simca Abarth ganhando os 500 KM de Interlagos de 1965
Os Simca Abarth ganhavam tudo: provas curtas, longas, em pistas de rua, autódromos, em estradas. Na sua despedida, entretanto, o Simca Abarth perdeu – para uma Ferrari. Foi na pista da Tijuca, em 1965, quando Jaime Silva abandonou deixando o caminho livre para Camilo Cristofaro, com Ferrari. Os carros foram devolvidos para a Abarth, e segundo consta, jogados no mar por não terem a documentação correta para entrar na Itália.
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/IV_CENTENTENARIO_ABARTH.jpg)
Equipe Simca na Prova do IV Centenário, no Rio, 1965. Despedida do Abarth (Foto cortesia de Tulio Mendonça Mario)
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/equipesimcapererecaabarthetc.jpg)
Outra foto da diversificada armada da Simca no IV Centenario: Simca Tufao (Jau), Abarth 63 (Lauro Soares) "Perereca"(née Tempestade) (Fernando Martins Toco), e fora de vista, outro Tufao e Abarth. 1965. Foto de Tulio Mendonça Mario
Alguns podem criticar a Simca por ter trazido os Abarth, afinal de contas, o motor Simca usado não era o fabricado no Brasil. Nem tampouco era o motor 1,3 das Berlinettas, portanto, não foi a Simca que recorreu a armas européias primeiro. O Simca Abarth representou uma fase interessante no automobilismo brasileiro, pois levou inclusive a Vemag a criar algo mais potente dos que as suas relativamente singelas Belcar de corrida, o GT Malzoni, inspirou a Willys a fazer o protótipo Bino, e creio, também a criação do KG Porsche. Portanto, o saldo foi positivo, pelo menos na opinião deste autor, elevando demais o nível das competições.
A Simca também levou uma equipe para o Grande Prêmio de Turismo Standard da Argentina, mistura de prova de velocidade e Rally, na época a mais importante corrida de porte internacional na América do Sul. A longuíssima prova, em milhares de kilometros de estradas argentinas, foi demais para os cinco Simca, que abandonaram. Mas valeu a experiência internacional da equipe.
PRINCIPAIS VITÓRIAS DA EQUIPE SIMCA1962 - 6 Horas do Rio de Janeiro - Jayme Silva - Simca Chambord
1963 - 1600 km Interlagos – Jaime Silva/Ciro Cayres – Simca Tufão
1964 - 3 Hrs de Velocidade – Jaime Silva – Simca Abarth
1964 - 500 km Interlagos – Jose Fernando Martins/Ciro Cayres – Simca Abarth
1964 - 6 Horas de Brasilia – Ciro Cayres – Simca Tempestade
1965 - 500 km Interlagos – Jaime Silva – Simca Abarth
1965 - 12 Horas de Interlagos - Jaime Silva /José Fernando Martins/Ciro Cayres – Simca Abarth
1965 - 6 Horas de Interlagos – Jaime Silva – Simca Abarth
1965 - 12 Horas de Brasilia - Jaime Silva/José Fernando Martins – Simca Abarth
1965 - Recife – Jaime Silva – Simca Abarth
1965 - 6 Horas de Curitiba – Ciro Cayres – Simca Abarth
1965 - Circuito de Vitória – Ciro Cayres – Simca Abarth
1965 - 500 km do Rio de Janeiro – Ciro Cayres/Jayme Silva/Jau – Simca Tempestade
1965 - Prova Rodovia do Café – Jayme Silva – Simca Abarth
Com o retorno dos Abarth a Europa, a Simca foi pouco a pouco saindo das competições, fechando o departamento em 1966. O Brasil passava por momentos difíceis, e a Chrysler, que já assumira controle da matriz francesa, assumiu de vez a Simca do Brasil. Os velhos Chambord foram reestilizados, tornando-se Simca (e posteriormente, Chrysler)Esplanada, Regente e GTX, eventualmente perdendo a designação Simca. O GTX, apesar de ser o carro mais veloz do Brasil na época foi pouco usado em competições, embora Chico Lameirão tenha usado um em uma corrida em Belo Horizonte, em 1970. Simcas continuaram a correr em provas regionais, principalmente no Paraná e Rio Grande do Sul, e de fato, dois carros da marca largaram na prova de divisão 3 realizada em Cascavel em 1973, sem sucesso contra os mais ágeis Opala 4 cilindros.
------------------------------------------------------------------------
(27/4/2018, por Leon) acrescento informações sobre o I GP Rodovia do Café:
![](http://forum-simca.191.s1.nabble.com/file/n4643175/z1.gif)
Correio Lageano, 18.9.1965
SIMCA VENCE TAMBÉM EM PROVA DE ESTRADA
A Simca do Brasil, prosseguindo em sua vitoriosa atuação nas corridas automobilísticas, venceu, com largos méritos, o "I Grande Prêmio Rodovia do Café", realizado entre Apucarana e Curitiba (ida e volta), numa distância de 710 quilômetros, na nova estrada paranaense. A prova fez parte do programa de festejos comemorativos da inauguração da rodovia e foi efetuada no dia 15 de agosto [de 1965].
Tratava-se de corrida em estrada, fato inédito no Brasil. Por isso mesmo, grande expectativa cercava a competição. Os volantes do sul, adeptos desse tipo de prova, tinham suas carreteras em "ponto de bala". Grandes duelos eram previstos entre os possantes veículos sulinos e as máquinas de São Paulo, cuja maioria jamais havia competido em estradas, onde as velocidades são muito maiores.
O resultado foi mais uma vitória da Equipe Simca, com Jayme Silva e Augusto Nunes em primeiro lugar, pilotando o Simca Abarth nº 26, com a excepcional média horária de 154,8 quilômetros [por hora]. O tempo gasto foi de 4h 34' 18". Em segundo lugar, com apenas 11 minutos de diferença, chegou o protótipo Simca Tufão, apelidado de Tempestade, com a direção de Cyro Cayres e Afonso Celso, com a média hprária, também excepcional, de 149,5 quilômetros [por hora].
A classificação geral foi a seguinte:
1º lugar: Simca Abarth nº 26 - Jayme Silva (Equipe Simca) - 4 horas, 34 minutos e 18 segundos, média de 154,80 km/h
2º lugar: Simca protótipo nº 62 - Cyro Cayres (Equipe Simca) - 4 horas, 45 minutos e 52 segundos, média de 149,50 km/h
3º lugar: carretera Ford Edelbrock nº [ilegível] - Ângelo Cunha e José Luiz Barbosa - 4 horas, 50 minutos e 10 segundos
4º lugar: protótipo DKW Malzoni - Mário César de Camargo Filho - 4 horas, 53 minutos e 10 segundos
5º lugar: Carretera Simca nº 81 - José Fernando Lopes Martins (Toco - Equipe Simca) - 4 horas, 53 minutos e 48 segundos
![Hosted by imgur.com](http://imgur.com/J8DTRJE.jpg)
SIMCA TEMPESTADE