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Falta de transparência sobre fraude complica a defesa da VolkswagenValor Econômico/The Wall Street Journal Americas
A Volkswagen AG está se apressando para cumprir o prazo de até sextafeira imposto pelos reguladores americanos para que ela proponha os ajustes necessários em cerca de 500 mil carros equipados com um software ilegal nos Estados Unidos. A montadora alemã se vê às voltas com uma tensa relação com os reguladores dos dois lados do Atlântico que vão determinar as multas ligadas ao escândalo das fraudes em testes de emissões.
Dois meses depois de a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) ter revelado que a Volkswagen passou anos burlando testes de emissões de poluentes e, mais tarde, falsamente alegou problemas técnicos quando os resultados foram questionados, os detalhes de como e por que a Volkswagen fraudou os testes, quem são os responsáveis e como ela planeja consertar os carros afetados ainda não estão claros.
Desde que a EPA revelou a artimanha da Volkswagen, a maior montadora da Europa tem brigado publicamente com reguladores americanos sobre os detalhes, enfurecido autoridades da Alemanha e da União Europeia ao não fornecer informações e frustrado investidores. A cotação das ações da Volkswagen já recuou quase 29% desde 18 de setembro, quando a EPA fez as denúncias, e a empresa provisionou cerca de US$ 10 bilhões para arcar com os custos da crise.
Os consumidores estão evitando os carros da montadora. Em outubro, o primeiro mês completo desde que a crise veio a público, as vendas da marca Volkswagen caíram mais de 5% no mundo, ao passo que os mercados automotivos nos EUA e na Europa cresceram.
“Esse é um exemplo educativo de como as coisas não devem ser feitas”, diz Sasja Beslik, chefe de Investimentos Responsáveis do grupo sueco de fundos de investimento Nordea Asset Management. “A comunicação da Volkswagen tem sido totalmente reativa.” A Nordea possuía cerca de 500 mil ações ordinárias da Volkswagen antes da crise, mas vendeu 90% do total, diz Beslik.
Executivos da Volkswagen dizem que a resposta inicial da empresa à crise demorou devido às mudanças na direção e à dimensão do escândalo, mas melhorou desde então. “Não há como ter um plano para uma crise como essa”, diz HansGerd Bode, portavoz da Volkswagen. “Mesmo assim, respondemos de forma rápida e rapidamente dissemos como iríamos chegar ao fundo do que aconteceu”.
A Volkswagen também tem tido dificuldade para conquistar a opinião pública. Uma oferta de US$ 1 mil em dinheiro e serviços feita neste mês para donos de carros a diesel nos EUA, uma suposta mostra de boa vontade, provocou uma resposta morna dos clientes e foi recebida com desdém pelos legisladores americanos, que chamaram a oferta de “ofensivamente inadequada”.
As impressões contam em investigações regulatórias de alta visibilidade. Casos anteriores indicam que os EUA são mais inclinados a impor multas menores a empresas que se mostram cooperativas em público, ainda que divergências sobre fatos continuem nos bastidores.
Num acordo com a General Motors Co. num processo criminal sobre um defeito no interruptor de ignição de alguns carros que foi associado a mais de 100 mortes, o Departamento de Justiça dos EUA declarou que a montadora realizou uma investigação interna rápida e rigorosa, forneceu aos procuradores fatos sem distorções e entregou documentos normalmente protegidos pelo privilégio entre advogados e clientes. Os procuradores também levaram em conta a decisão da GM de demitir os infratores e criar um fundo de compensação para distribuir centenas de milhões de dólares às vítimas.
A GM acabou recebendo uma multa de US$ 900 milhões, menor que a de US$ 1,2 bilhão aplicada à Toyota Motor Corp. num acordo para encerrar um processo ligado a um problema que causava a aceleração repentina de veículos.
Os procuradores tiveram dificuldade para entrevistar os executivos da Toyota no Japão porque a empresa se recusou a disponibilizá-los, dizem pessoas a par do assunto. A Toyota informou que está se empenhando para melhorar a comunicação com clientes e reguladores.
O escândalo da Volkswagen, que potencialmente afeta mais de 12 milhões de veículos no mundo todo, é suficiente para sobrecarregar qualquer empresa. Mas a maior empresa da Alemanha se afundou ainda mais que o necessário, dizem críticos, ao falhar na comunicação com clientes e reguladores.
Dias antes do anúncio da oferta a donos de carros, a Volkswagen recebeu outra notificação da EPA, desta vez afirmando que o software fraudulento também está nos motores 3.0 usados em sedãs de luxo e utilitários esportivos fabricados pela Audi e a Porsche, ambas unidades da Volks. A empresa contestou as novas alegações e
não informou os clientes sobre elas, irritando proprietários que viram seus carros perderem valor.
“Nós ainda não sabemos o que dizer aos clientes”, diz Steve Kalafer, dono de uma concessionária em New Jersey.
“Precisamos de detalhes sobre como a Volkswagen vai compensálos”.
As relações entre a Volkswagen e a EPA ficaram tão ruins que o ministro alemão dos Transportes, Alexander Dobrindt, criticou publicamente a empresa depois de uma reunião com autoridades da agência americana em outubro. “A confiança foi destruída e muito trabalho será necessário para reconstruíla”, disse ele.
Uma portavoz da EPA não quis comentar.
A Volkswagen se comprometeu a cooperar com os investigadores, contratou a empresa de advocacia Jones Day para conduzir uma investigação e convidou procuradores alemães a examinar suas atividades.
Sob o comando do diretorpresidente Matthias Müller, que assumiu em 25 de setembro no lugar de Martin Winterkorn, que se demitiu depois que a crise estourou, a Volkswagen ofereceu imunidade aos funcionários que derem informações adicionais sobre a fraude nas emissões.
Aos poucos, a Volkswagen está começando a explicar como planeja corrigir os carros afetados.
Nesta semana, a Volkswagen mostrou a um comitê de especialistas do Parlamento alemão como planeja ajustar os veículos 1.6 afetados. A “solução”, que a empresa não explicou ao público, está agora passando por mais testes na KBA, a agência de trânsito da Alemanha, disse um portavoz sem dar detalhes.
Ainda assim, reguladores em Washington e Bruxelas disseram que estão boquiabertos com o que descrevem como uma comunicação opaca com agências que podem aplicar bilhões de dólares em multas.
A reticência da Volkswagen enfureceu as autoridades americanas, que já se sentiram enganadas depois que a empresa repetidamente afirmou aos reguladores durante 15 meses que as discrepâncias nas emissões dos carros foram provocadas por problemas técnicos. Apenas em agosto, quando a EPA se recusou a certificar os modelos 2016 para venda nos EUA, a empresa admitiu as irregularidades.
(Valor Econômico/The Wall Street Journal Americas/William Boston, Mike Spector Torry, Friedrich Geiger e Ruth Bender | 19/11/2015)

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