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rusiq on
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Cavalo de Ferro - Postado em 09/07/2011 22:06:00 - ForumNow!
SIMCA DO BRASILParabéns a todos que elaboraram o site que conta a historia da SIMCA. Como ela fez importante parte da minha vida, pensei em também prestar uma colaboração com mais algumas informações.
Antes de qualquer coisa vou me apresentar: CARLOS ÉRICO COSTAMILAN, atuais 77 anos de idade, residente em Caxias do Sul/RS, Rua Cons. Dantas, 776, Bairro Lourdes.
Fui sócio gerente da firma IMPORTADORA AUTO NORDESTE LTDA, que vendia automóveis Renault, Chrysler, Skoda, caminhões FARGO, tratores Hanomag e Zetor, autopeças em geral.
Em Dezembro de 1958, viajei ao Rio de Janeiro a procura do Banco Nacional de Minas Gerais S.A, que se dizia ser o gestor da instalação da fábrica SIMCA DO BARSIL. Dali me recomendaram que fosse a B. Horizonte, onde seria instalada a fábrica.
Procurei o Banco Nacional, onde fui informado que realmente a fábrica seria instalada no Distrito Industrial de Sta. Luzia, mas que provavelmente os veículos seriam montados em S.Paulo, nos pavilhões da VARAM MOTORS, onde eram montados os veículos da marca NASH, na via Anchieta, bem defronte a Volkswagen. A parte comercial deveria ser tratada com o Dr. Marcelo Azeredo dos Santos, no edifício Conde Prates, à Rua Libero Badaró, centro de S. Paulo.
Ali, pois, compareci com o dossiê completo da minha firma.
Eu era então um jovem de 24 anos, embasbacado com a grandiosidade de S.Paulo, onde eu então pela primeira vez viajava.
Dr. Marcelo, Diretor Comercial, um verdadeiro gentleman, simpatizou comigo e analisou rapidamente minha a papelada, prometendo que eu seria visitado logo pelo Inspetor da Simca para efetivar a nomeação, o que realmente aconteceu logo no início da 1959.
Lembro-me que os primeiros Chambord eram vendidos ao preço “de tabela” da fábrica de CR$ 958.500,00 (não lembro bem qual a moeda da época). Os primeiros carros foram logos vendidos, e em seguida comecei minhas peregrinações por S.Paulo, até duas vezes por mês, para retirar mais carros, tratar das garantias, peças e etc.
Os SIMCA CHAMBORD tinham motor V8 de apenas 84 cv a 4.500 RPM, três marchas a frente, segunda e terceira sincronizadas, com palanca ao volante. O motor V8 era, na realidade, uma derivação menor do famoso 8BA da FORD, que na França fabricava o FORD VEDETTE (cuja fábrica foi vendida à SIMCA FRANCESA). Em Caxias do Sul, como no resto do Brasil, imperavam os veículos norte-americanos: Dodge, Ford, Chevrolet, Mercury, Lincoln, Buick, Cadillac, Pontiac, Osmobile, Packard e outros, caracterizados por sua potência e grande torque, o que justamente faltavam aos Chambord. Por isso era preciso “quebrar” este tabu de força e resistências dos carros americanos.
Na época foi fundado o CAEC(Caxias Auto Esporte Clube) do qual eu era membro dirigente. Organizamos então em meados de 1959, o primeiro KM de Arrancada em Caxias do Sul. O SIMCA CHAMBORD, que pilotei, venceu em todas as categorias de cilindradas, superando naturalmente os carros americanos, que embora com maior cilindrada e potência estavam ultrapassados. Logo a seguida organizamos o 1º Circuito da cidade de Caxias do Sul, vencido pelo SIMCA CHAMBORD de Catarino Andreatta.
Em Abril de 1960 realizou-se o KM lançado de Taquara/RS, cidade perto de Caxias do Sul e Porto Alegre. O SIMCA CHAMBORD venceu em diversas categorias. Ainda em 1960, organizamos a 1ª Subida da Montanha, na BR2, hoje BR116, de Galópolis a Caxias do Sul, com chegada defronte ao Monumento Nacional ao Imigrante. Venceu o SIMCA CHAMBORD de Catarino Andreatta. Assim que – segundo os próprios dirigentes da fábrica – Caxias do Sul e a nossa revenda IMPORTADORA AUTO NORDESTE LTDA, foi a pioneira em colocar o Chambord em competições esportivas.
Granjeamos então notável simpatia em todos os setores da fábrica a ponto de, num contato particular com o Diretor Presidente Sr. Pasteur termos sido contemplados com a doação do
"SIMCA CHAMBORD" que fazia as filmagens do
“VIGILANTE RODOVIÁRIO”, e que havia sofrido uma pequena “batida” e estava a cargo da seguradora. Trouxemos o carro para Caxias do Sul e o preparamos para a grande corrida das 12 Horas de Porto Alegre, no circuito da Cavalhada - Vila Nova.
A já famosa dupla gaúcha Catarino Andreatta (carro 2) e Breno Fornari (carro 35) corriam de SIMCA CHAMBORD. Breno era um formidável preparador de motores, desde o tempo das carreteiras. Foi ele o primeiro grande inovador em motores dos SIMCAS. Entre outras pequenas melhorias ele aumentou o diâmetro dos pistões de 67,5 mm, para 69,5 mm, ocasionando importante aumento da cilindrada, que originalmente era de 2.351 cm³. Os motores ficaram então com muito mais potência e mais torque.
A SIMCA DO BRASIL, logo percebeu o potencial de melhorar a imagem de seus carros, através de corridas. Contratou pilotos experientes como Ciro Cayres, Jaime Silva e Fernando(TOCO) entre outros. Criou um departamento de competições, que ao mesmo tempo, estabelecia melhorias para os carros de linha.
Pois bem, voltemos às “12 Horas de Porto Alegre”. Aqui em Caxias do Sul, preparamos o nosso SIMCA (ex-vigilante rodoviário), com todo o carinho. Pintamos o carro todo de branco e com o número 77, pilotado por dois entusiastas, WALTER DAL ZOTTO e JUVENAL HERMES MARTINI, porém hábeis pilotos.
Estes dois pilotos já haviam participado da edição anterior da “12 Horas de Porto Alegre” em 1962 e estavam ponteando a prova quando por pane seca (sem gasolina) perderam a liderança. O vencedor foi Breno Fornari, com o seu CHAMBORD 35.
Estamos agora em Junho/1963 e a fábrica SIMCA com uma equipe de corridas veio a Porto Alegre com uma carreta e cinco carros e seus pilotos famosos, respaldados por todo o aparato de uma fábrica. Três dos cinco carros da fábrica deram largada pilotados por Jaime Silva, Toco e Zoroastro Avon (se não me engano). Pontearam a prova até o amanhecer (a largada era a meia-noite). Um capotou e dois tiveram problemas no motor.

Ao meio dia de 23 de Junho de 1963, a bandeira quadriculada saúda o vencedor:
"CHAMBORD 77" de Dal Zotto e Martini, sob o patrocínio da IMPORTADORA AUTO NORDESTE LTDA. Breno Fornari com o Chambord 35 foi o segundo colocado.
Os Simca, ao que sabemos, nunca conseguiram vencer em Interlagos. Lá predominavam os JK Alfa Romeo, com Chico Landi e outros. Cinco marchas a frente, carros praticamente importados e muito resistentes, de grande desempenho.
Em 1963, a SIMCA lançou o câmbio com três marchas sincronizadas, então denominados “3 SINCROS”. Em 1966 transformou-se o motor de válvulas no bloco, para válvulas na cabeça, denominados então “EMISUL', que era muito barulhento, tendo melhorado após algumas centenas de unidades fabricadas.
QUALIDADE DOS CARROS SIMCA - Enquanto os carros eram importados da França ou parcialmente montados no Brasil, com componentes importados, a qualidade era boa, nunca ótima. Em 1960, iniciou-se a nacionalização, com problemas sérios no sistema de embreagem, motor, diferencial e parte elétrica. Cabia então à pós-venda realizar milagres para o Chambord agradarem os seus clientes. A regulagem e sincronia dos dois carburadores dos Rallye e Presidence era um verdadeiro drama. Assim o carro, em baixa velocidade, especialmente na cidade, motivava enérgicas reclamações dos consumidores. Daí que a capacidade técnica dos mecânicos das revendas é que podia resultar no sucesso, maior ou menor das vendas. Este foi o ponto forte da nossa revenda em Caxias do Sul, e que nos levou a conquistar um premio simbólico, é verdade, da SIMCA DO BRASIL: um pequeno troféu para Caxias do Sul, a revenda que mais vendeu carros em relação a população da cidade, documentado numa foto, onde estou à esquerda, e o diretor e repórter do jornal local, “O PIONEIRO”.
Foram vendidas centenas de SIMCA CHAMBORD, RALLYE, PRESIDECE, JANGADA, ALVORADA, ESPLANADA, REGENTE e GTX. Nossa revenda sobrepujava fartamente as vendas de DKW e WILLYS, só; não alcançando a Volkswagem.
Tanto assim que a Willys Overland do Brasil, insatisfeita com a performance de seu revendedor local, nomeou um segundo autorizado para atender a cidade. Este aguentou a dois anos, fechando suas portas em seguida.
Prezados amigos da SIMCA DO BRASIL, responsáveis pelo “SITE” este é o relato que a minha memória permite a respeito dos carros aqui no solo gaúcho e especialmente em Caxias do Sul.
Sou antecipadamente agradecido se puderem, com isto, enriquecer o notável documentário já existente.
Muito obrigado.
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Marcelo - Postado em 10/07/2011 12:40:00
Ganhei um presente espetacular lendo a sua postagem. É uma das coisas que mais gosto nesse universo Simca, ouvir relatos de pessoas como você que tiveram a felicidade de viver na época. A forma como você; narra os acontecimentos, varias notícias que para mim só inéditas, a sua combinação de nostalgia com informações sólidas e objetivas.
Fico lendo e relendo o seu relato e, enquanto faço isso, vou viajando no tempo e imaginando as cenas. Uma das coisas que eu mais gostaria de fazer era entrar na fábrica da Simca, uma pena que o mais próximo que cheguei foi visitá-la ha uns anos atras e encontrar apenas a ultima construção que restou, um pedaço do muro de entrada também destruído.
Você é a prova viva do que eu sempre disse: em seu conjunto, os carros Simca eram os melhores da sua época, mas essa afirmação dependia 100% da qualidade da sua manutenção, o que estava diretamente ligado as revendas Simca, é capacidade dos seus proprietários e, consequentemente, dos seus mecânicos.
Quando estive em Caxias do Sul senti de perto como o automobilismo esta no sangue de vocês, nunca tinha visto nada igual na minha vida.
Suas fotos serão muito bem vindas, vamos ver se o pessoal tem uma forma de colocá-las aqui no fórum. Eu no momento não estou sabendo como fazer isso. Faço a você um convite: mande-as para mim via CD, eu coloco esse seu relato no campo próprio do site, em ELES FIZERAM A SIMCA DO BRASIL, REVENDEDORES AUTORIZADOS, ao lado dos 2 outros que la estão. Isso iria enriquecer muito o nosso site.
S acrescentando uma informação: houve uma cisão em São Paulo entre o pessoal das corridas, isso no início dos anos 60. Então foi realizada uma prova paralela em Interlagos e o Simca conquistou aquele que talvez tenha sido o seu título mais expressivo em provas, só que agora me deu um branco e eu não me lembro dos nomes dos bois. Na minha Rallye 63 tem um plastico alusivo à importante conquista, mas agora ela não esta aqui em casa. Com certeza alguém vai completar essa informação.
Grande abraço e tenha a certeza que o meu domingo sera muito melhor graças a você.
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Dando “nome aos bois”:
1600 Km de Interlagos - 1963Classificação oficial homologada:
1º. Simca #26 – Ciro Cayres / Jaime Silva / 200 voltas / 14hs e 50m/média 107.4km/h2º. Carretera (Corvete) #2 – Catarino Andreata / Breno Fornari
3º. Simca #44 – Fernando “Toco” Martins / Ubaldo Cesar Lolli
4º. Willys Interlagos #48 – Álvaro e Ailton Varanda (1º.Cat até 1.600cc.)
5º. Carretera (Ford) #6 – Vitório Andreata/Antonio Tergolina
6º. Carretera (Corvete) #18 – Camilo Cristófaro / Antonio Carlos Aguiar
7º. Willys Interlagos #33 – Geraldo Meirelles / Antonio Carlos Scavone (2º.Cat até 1600cc.)
8º. DKW #10 – Mario Cesar de Camargo Filho / Joaquim “Cacaio” Teles de Matos (3º.Cat até 1600cc.)
9º. Carretera (Corvete) #28 – Roberto Galucci / Euclides Pinheiro
10. Carretera (Ford) #22 – Luiz Valente / Luis Carlos Valente...
Nota: A Equipe Willys não participou desta corrida.
Foi uma corrida de “turismo força livre” (carreteras), onde os carros foram separados por categorias: 1ª categoria, até 1600 cm³; 2ª categoria, todos os demais...
Mesmo assim, as berlinetas (particulares) participantes não fizeram feio.

Foto: Geraldo Meirelles - 1600 km de Interlagos - 1963.
Fala Geraldo...
"Primeiro, o grid de largada da prova, Berlineta Interlagos #33 da Equipe Torke, chegamos, Antonio Carlos Scavone e eu, em 7º. na geral e 2º. na classe até 1600cc.
Na foto estão os carros da Simca na época, que fizeram 1º e 2º no grid e depois nós.
Os Simcas eram conduzidos pelo Ciro Caíres, Jaime Silva, Toco e Ubaldo Cesar Lolly."_____________________________________________________________________
Cavalo de Ferro: ”Os Simca, ao que sabemos, nunca conseguiram vencer em Interlagos. Lá predominavam os JK Alfa Romeo, com Chico Landi e outros.Carlos, isto não é verdade, em Interlagos predominavam as berlinetas da Willys.
Automobilismo Brasileiro, de 1962 a 1965 (resumo)
Visto que a Vemag e a Simca já haviam montado suas equipes oficiais, e até a FNM já tinha ganho certa notoriedade com os feitos do JK em 1960 e 1962, Christian Heins convenceu a direção da Willys a montar uma escuderia, mas só faltava o carro. O Dauphine, depois chamado Gordini, era o carro de menor capacidade no país, com 850 cc, e impróprio para enfrentar mesmo os DKW. Achou-se a solução perfeita: lançar no Brasil um dos carros esporte da Alpine, que acabou sendo apropriadamente chamado de Interlagos, e foi homologado como carro de turismo, algo que muito desgostou a Simca e a Vemag. A Berlineta já saiu ganhando tudo pela frente em 1962.
Em 62, 63 e parte de 64 a Willys basicamente ganhou por onde passou, demonstrando a superioridade da Berlineta. Os pequenos carrinhos ganhavam em corridas curtas e longas, em circuitos de rua, autódromos e subidas de montanha. Batiam os outros nacionais mas também os estrangeiros, como Alfa-Romeos, e davam muito trabalho até mesmo às carreteras de 5 litros. Ganharam provas em Interlagos, no Rio de Janeiro, Araraquara, Curitiba, Brasília, Pernambuco, Rio Grande do Sul, enfim, de norte a sul, tornando-se os bichos papões do automobilismo da época. A Willys, como as outras equipes de fábrica, montou seus motores (o Gordini) em alguns Fórmula-Júnior, mas a categoria não vingou. Alias só as equipes de fábrica compraram os Landi-Bianco de FJr. – 3 foram para a Willys, 1 para a Vemag e 1 para a Simca. O sexto FJr, também era de fábrica, no caso, do seu fabricante e corria com um motor Alfa-Romeo (do JK). Os monopostos acabaram sendo usados como Classe B da Mecânica Continental, sem nenhuma chance de bater os velhos fórmula 1 equipados com motor Corvette, no circuito externo de Interlagos.
A Equipe Simca cansada de apanhar de carros com menos da metade da cilindrada dos seus sedãs, decidiu apelar, importando três Simca-Abarth de 2 litros. Aí a coisa ficou mais difícil para a Willys. Apesar da superioridade dos Abarth, as Berlinettas ainda eram concorrentes fortes – e em 1965 chegaram os Alpines com motores 1.3, para substituirem os Interlagos de fábrica, com motores de 850 cm³. Foram as Abarths que ganharam as principais corridas, 12 no total, do final de 1964 até o final 1965, exceto o II GP Estado da Guanabara de 1965 onde uma “perereca” ganhou.
Foi a vez do Simca Tempestade # 62 levar a melhor. Ganhou com méritos, chegando 2 voltas à frente da Abarth # 26 e 4 voltas do Interlagos # 21, da Willys.
Rui (rusiq)
Nota: Texto (90%): Carlos de Paula.
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rusiq - 1966, para a Simca este ano merece um estudo à parte.
Afastada das corridas no Brasil, não querendo ferir frontalmente o Automovel Clube do Brasil, que brigava com a Confederação, resolve correr na Argentina.Se preparou durante muito tempo, mas experiencia Argentina foi um desastre, começou ao chegarem na fronteira, onde os 2 caminhões cheios de peças, sem autorização ou documentação, ficaram presos na alfandega argentina.
Para liberar os caminhões tentou-se de tudo, inclusive a Chrysler Americana foi envolvida.
E na corrida, os carros não passaram da 1ª etapa...
Isto foi a gota d'água que faltava para acordar o gigante americano...
A Chrysler assumiria, logo após, o que era seu há muito tempo, a Simca do Brasil.

SIMCA TEMPESTADE