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Extraído da área "Eles Fizeram a Simca do Brasil", do sítio www.simca.com.br; agradeço por colaborações que permitam resgatar o conteúdo do site, construído com a moribunda tecnologia Flash.
Testemunho de Dario Ribeiro, funcionário do Departamento de Relações Públicas da Simca: "De Gaulle: aquele francês deu trabalho!"
A visita do Marechal De Gaulle (estranhou, porque, dos muitos marechais brasileiros, só o Castello Branco foi combatente - os demais atingiram seus postos pela chamada "Lei da Praia" ou pela transferência para a reserva...) incluiu a Cosipa - Cia. Siderúrgica Paulista, ao pé da Serra do Mar, e, na volta, a Simca. E aí vai um breve relato:
Tudo começou quando a Simca francesa, que tinha participação acionária da Fiat italiana, e era dirigida, por isso, por um franco-italiano chamado Pigozzi (Pigozí para os franceses), transferiu seu controle para a Chrysler International.
Segundo contavam, De Gaulle teria interpelado o sr. Pigozzi em público, dizendo-lhe que, antes de ceder o controle da empresa, deveria ter consultado o Governo da França...
O caso é que o presidente De Gaulle, de início, não estava disposto a visitar a Simca do Brasil.
Mas um intenso trabalho diplomático, através do irmão do Dr. Sebastião, Everaldo Dayrell de Lima, diplomata de carreira, aliado à modesta colaboração de nossa Relações Públicas junto ao consulado francês em São Paulo, conseguiu fazer com que o Marechal mudasse de ideia e incluísse a visita à Simca no retorno de sua ida à Cosipa, já que a Simca estava situada no caminho de volta, à margem direita da Via Anchieta.
Acontece, porém, que antes de tudo isso, um francês, Victor Sapin-Lignières, ligado à OAS (Organization de l'Armée Secrète), grupo separatista da Argélia quando era colônia francesa, fora dirigente da Simca do Brasil.
Com medo da repetição do "Dia do Chacal" e conduzido pela propaganda enganosa que se fazia do Brasil (cobras, índios, "não é um país sério" etc.), o Presidente tomou todos os cuidados como, por exemplo, EXIGIR acesso direto da Via Anchieta para a fábrica, sem passagem pelo trevo de entrada a São Bernardo do Campo, o que nos deu muito trabalho junto ao DER - Departamento de Estradas de Rodagem e a obrigação de DESFAZER tal acesso direto, assim que a comitiva deixasse a Simca.
E mais, como o prédio principal da Simca tinha três pavimentos, ficando a fábrica no subsolo, EXIGIU a abertura da parede e a construção de um palanque, na altura do jardim, com vista para a face interna (a fábrica propriamente dita), palanque esse que deveria estar forrado de cor vinho e conter um declive até o piso da fábrica, para o caso de querer o Marechal descer e cumprimentar os operários.
Observação: Soubemos que, por vaidade e arrogância ("um Chefe de Estado não deve baixar a cabeça"), S. Exa., muito alto e míope, odiava escadas, principalmente para baixo, obrigando seu ajudante de ordens, quando as havia, a segredar o número de degraus, de forma que o Presidente da França descesse a escada olhando para cima!
A visita foi, de fato, cronometrada; os operários da Simca cantaram a "Marselhesa", a recepcionista principal dos escritórios estava uniformizada como aeromoça da Air France e, na parede externa da fábrica, em ângulo que possibilitava a leitura, pelo Marechal, meu chefe, Antônio Rangel Bandeira, mandou pintar a frase "A Cruz de Lorena e o Cruzeiro do Sul se irmanam na visita do Presidente de Gaulle".
Foi feita uma prévia completa de todo o roteiro do Marechal, no Brasil, com exageros de segurança, como no caso do presente que a Simca queria dar, consistente em uma tapeçaria do baiano Genaro de Carvalho: a segurança francesa exigiu que o presente NÃO FOSSE EMBRULHADO NEM EMBALADO EM QUALQUER TIPO DE CAIXA! Colocamo-lo (o tapete) em um cavalete, coberto com um lençol: na hora pré-determinada o lençol foi removido e, ato contínuo, agentes de segurança franceses pegaram o tapete, examinaram-no e o embalaram para o transporte“.
A programação do Cerimonial brasileiro previa o uso de automóvel do Governo do Estado de São Paulo (um Lincoln) pelo Presidente e pelo governador mas, por via das dúvidas, a Simca resolveu preparar um automóvel para deixar à disposição do Marechal.
Posso dizer que o pessoal da Simca do Brasil teve um sonho de grandeza e imaginou que De Gaulle pudesse preferir desfilar em um automóvel de origem francesa... Preparou-se, então, uma "limousine" (Présidence, é claro, com a carroceria alongada, da cor ouro). Ela NÃO tinha vidro corrediço isolando os passageiros do motorista, que era baixinho para poder dirigir com o banco dianteiro instalado mais à frente do que o normal e, ainda, com uma concavidade na parte posterior do encosto, tudo isto para maior folga às longas pernas presidenciais e à dois banquinhos escamoteáveis (transversais), como aqueles usados no bagageiro da "Jangada", para acomodação do(s) ajudante(s) de ordens do Marechal De Gaulle e de seu anfitrião. Para tal, o carro foi alongado, externamente, e não sei que fim levou.
A mim, por ser alto, com 1,90 m, cabia a missão de testar a comodidade do banco traseiro. Para tanto, além de terem treinado aquele motorista baixinho, colocavam-me um ou dois livros sobre a cabeça simulando o tradicional quepe do Marechal e me faziam entrar, sentar e sair do carro, com toda aquela parafernália.
Tudo inútil, pois o tal carro não foi usado. Usados foram 66 (sessenta e seis!) carros que a Simca disponibilizou para as três comitivas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília: todos novos, pretos, com estofamento de couro vermelho e submetidos a rigorosos testes de qualidade. Nenhum apresentou qualquer defeito!
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